APRESENTAÇÃO

Sou do Recôncavo baiano, nascida em São Francisco do Conde – Bahia. Quando cheguei a Belo Horizonte, permanecer fiel às minhas tradições, ao benzer, foi o que me sustentou enquanto mulher negra.

Sou nagô; o candomblé é a minha filosofia de vida. Meu modo de falar e escrever é o pretuguês.

Dialogo com as matriarcas do candomblé, mulheres que pensam e guiam dentro da religiosidade. Quando morei em Contagem, ouvi de uma delas o recado para não exercer meu ofício em casa. Entre benzedeiras, yalorixás e filósofas – Ruth Landes, Djamila Ribeiro, Suely Carneiro, Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo – construo minha leitura do mundo.

O conceito de escrevivências e o de pretuguês me autorizam a escrever. Por isso, você encontrará frases curtas, aforismos, cortes.

Assim fala a benzedeira dialoga também com Assim falava Zaratustra, de Nietzsche, numa via aberta pela leitura da filósofa Scarlett Marton.

Pensa que ando só? Sou filha de Ossãe e Oxum. As folhas são sagradas para mim. Os rios e as nascentes são meu berço. Desde criança, reverencio suas forças.

Há trinta anos atuo com as folhas. Em Belo Horizonte, formei um microterreiro para falar dos orixás, exercer os benzimentos e compartilhar saberes. Carrego uma voz oracular: ensino você a se erguer a partir do seu Orí.

Ekedi Maria José